O projeto “Diáspora Griô” pretende formar um núcleo de valorização da diversi
dade étnico
dade étnico
cultural, com foco na sistematização das práticas educativas como forma de minimizar o
preconceito e a discriminação étnico-racial, através da afirmação e disseminação das diversas
sabedorias e formas de pensamentos dos diferentes povos de comunidades tradicionais.
O movimento diaspórico trata de mapear a expansão do povo africano em vários continentes do
mundo. No Brasil, a comunidade indígena, nos reserva esse legado de saber baseado no
cuidado com a natureza e com a terra como princípio fundamental da existência do ser humano.
Assim, o projeto “Diáspora Griô” visa combater o preconceito e a discriminação étnico-racial
com ações educativas, alertando com informação e práticas de comunicação comunitária,
os diversos setores da sociedade sobre os efeitos nocivos dessas praticas, que se constroem
através da negação ao acesso ao conhecimento.
Esse texto é uma primeira ação de comunicação e de circulação de informação sobre a
necessidade de re-educação da população, uma re-educação que contempla necessariamente
a inclusão dos saberes dos “grios”, que são em suma,“bibliotecas vivas” (guardiões e
transmissores dos saberes ancestrais) das comunidades tradicionais, como as africanas e as
indígenas.
Com o povo africano e suas mitologias, que fundam uma cosmovisão, pode-se entender que
OXUM é o princípio das águas doces, força que traz fertilidade à terra, que faz nascer a vida:
alimentos, plantas, seres vivos de várias espécies... Oxum não é só uma estátua, um “Deus
que está no Céu”. Ela é fundamento da natureza, habita a força da água, seus mistérios e
sua importância.
Há um tempo só, o princípio da água é ao mesmo tempo sagrado e profano, alimenta o corpo e
alma, é político e filosófico, é econômico e bélico, é saúde e morte, é sedução e luta. Nos
mitos de OXUM reside a beleza da vida, a riqueza da fertilidade. Muito distante da ideia de
um deus que paira acima do nosso cotidiano, OXUM é um princípio de vida para as
comunidades tradicionais africanas.
Assim, quando sujamos o solo, a terra, e enchemos de lixo produzido pelo nosso consumo de
cidadãos televisionados e pelo capital que reina no cotidiano das nossas cidades, e sujamos as
beiras das cachoeiras e dos rios, estamos agredindo o princípio OXUM, estamos matando o
princípio da fertilidade da vida. O Orixá não é um santo, tal como o santo das tradições cristãs.
Orixás são forças da natureza.
Oxum vive na água doce, no rio, na cachoeira, no banho que você toma, na água que está no
seu corpo, na água que te hidrata e te limpa, nos banhos sagrados que lavam a alma, na sua
saliva, na sua lágrima. O princípio africano das águas está na sua vida a todo instante,
respeite a natureza, respeite a sua vida e de seus descendentes.
Nem Oxum nem os caboclos precisam de garrafas de plástico, sacos plásticos, fitas plásticas,
garrafas de cerveja. Isso não faz parte da relação sagrada com a natureza, isso faz parte da
visão capitalista, egoísta e destruidora do homem, da natureza e da vida. Plástico (legado das
empresas de petróleo) é material que agride o meio ambiente.
Sei que somos poucos, poluímos pouco diante das grandes empresas multinacionais, das
corporações; mas com poucas pessoas se fazem grandes exemplos e com grandes multidões
se fazem as sutis manipulações.
Essas imagens são de uma cachoeira que fica na serra de Nova Friburgo-RJ, cidade onde
cresci, e todos os restos e lixos encontrados foram infelizmente deixados por integrantes de
religiões de matriz e africana no Brasil.
O Projeto “Diáspora Griô” pretende sensibilizar através da re-educação do povo de terreiro e
da população em geral sobre os princípios filosóficos presentes na mitologia dos orixás
africanos, para que possamos juntos fazer com que o sagrado esteja presente em atitudes
cotidianas, que seja alternativa aos valores do consumo e do capital.
Vamos respeitar o princípio filosófico das águas: o princípio da fertilidade e da riqueza da
vida!E riqueza não é igual a dinheiro para o povo africano.
adriana@edugrio@gmail.com Adriana de Holanda é Juremeira, Zeladora da Casa de Jurema do Rei Salomão, Psicóloga,
Iawo de Iansã no Ilê Axé Oxalá Talaby- Pernambuco (Candomblé Nagô), Mediadora da Rede
Educação Griô (REINVASÃO AFRICANA E INDÍGENA) gestora de projetos em educação,
saúde e cultura pela UFF/FIOCRUZ.
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